A Golden Pen of Freedom 2025, o prémio anual da World Association of News Publishers (WAN-IFRA) dedicado à liberdade de imprensa, foi atribuída à imprensa independente da Ucrânia, em reconhecimento ao papel crucial que tem desempenhado desde o início da guerra.

A distinção foi anunciada na cerimónia de abertura do World News Media Congress 2025, a decorrer em Cracóvia, Polónia. Segundo a organização, o prémio “reconhece os imensos sacrifícios feitos pelos colegas da imprensa ucraniana desde a invasão russa em 2022, e presta homenagem ao seu compromisso, profissionalismo e dedicação em manter os mais elevados padrões – em tempos de guerra, como em tempos de paz”.

Em representação dos profissionais dos media ucranianos, Oksana Brovko, diretora-executiva da Association of Regional Press Publishers of Ukraine (AIRPPU), e Oleksii Pogorelov, presidente da Ukrainian Media Business Association (UMBA) – ambas associadas da WAN-IFRA – subiram ao palco para receber o prémio.

Oksana Brovko sublinhou a motivação por detrás do trabalho da imprensa independente ucraniana: “Não escrevemos porque somos corajosos. Escrevemos porque o silêncio não é uma opção. O jornalismo independente não é um luxo – é a infraestrutura da liberdade. Na Ucrânia, mantemo-lo vivo debaixo de fogo. Este prémio não é uma celebração, é uma responsabilidade – de continuar a falar, especialmente quando o silêncio é mais seguro.”

Já Oleksii Pogorelov destacou o compromisso de quem continua a trabalhar em condições extremas: “Quero expressar a gratidão sentida por todos aqueles que, nestes tempos tão difíceis, continuam a informar as suas audiências, relatando tanto a dor como o luto. Aqueles que acreditam que a Ucrânia superará esta prova e será um membro digno da comunidade europeia e global de países independentes, capazes de defender os valores democráticos. Aqueles que enfrentam enormes dificuldades, tanto morais como físicas, mas cuja missão profissional os obriga a resistir sem o demonstrar.”

A presidente cessante do World Editors Forum, Martha Ramos, também homenageou os jornalistas ucranianos: “Este não é tempo de vacilar no nosso compromisso com os factos, com o propósito e com os valores que definem as nossas aspirações democráticas. É tempo de estar do lado certo da história, de apoiar a verdade, a justiça e o Estado de Direito – em suma, de continuar a fazer o nosso trabalho como jornalistas, apesar de tudo.”

WNM Ucrania

Desde o início da invasão, a 24 de fevereiro de 2022, jornalistas locais e regionais têm reportado incansavelmente sobre o conflito. Enfrentam riscos constantes, lidam com desinformação e propaganda russa, e continuam a fornecer informação essencial às populações – muitas vezes, sendo também fonte de ligação e sentido de comunidade.

No entanto, os desafios são enormes. Muitas redações foram forçadas a mudar de local várias vezes e muitos jornalistas, sem formação em ambientes hostis, viram-se em situações de risco de vida, sobretudo em zonas ocupadas ou junto à linha da frente. Pelo menos 16 jornalistas perderam a vida desde o início da guerra.

A isto somam-se cortes de financiamento, agravados pelas recentes mudanças na política dos EUA, que suspenderam o apoio a meios independentes. A maioria das publicações locais e regionais enfrenta sérias dificuldades financeiras, operando com receitas quase inexistentes e dependendo de doações ou apoio de organizações sem fins lucrativos. Mais de 300 órgãos de comunicação independentes encerraram desde o início do conflito – número que poderá aumentar.

“O vosso apoio e este reconhecimento são extremamente importantes. Dão-nos força. Confirmam que os profissionais da comunicação na Ucrânia não estão sozinhos. E, claro, motivam-nos a continuar a trabalhar para os ucranianos. Juntos, vamos vencer!”, afirmou Pogorelov.

“Na Ucrânia, o jornalismo não é apenas uma profissão. É uma forma de sobreviver, de preservar a memória e de resistir,” concluiu Brovko. “Porque quando os jornalistas se calam – são os ocupantes que falam.”

Apesar de tudo, o trabalho jornalístico continua a ser documentado com rigor. O Institute of Mass Information, com sede em Kiev, mantém atualizado o seu Barómetro da Liberdade de Expressão, onde regista os crimes de guerra da Rússia contra os media ucranianos. E, em março deste ano, o National Union of Journalists of Ukraine (NUJU) lançou o relatório "From Emergency Measures to Strategic Decisions", com uma análise aprofundada sobre os principais desafios que se colocam aos media.