Patricia Berga

 

(Reportagem publicada na PACKAGING de Março / Abril de 2018)

Com a aquisição do Alzamora Group, em junho de 2017, a Novotipo Europa ganhou um novo visual gráfico e a renovação da estratégia no mercado nacional. Falámos com Patricia Berga, a diretora geral do grupo para a nova unidade de produção em Portugal.

Como surge o interesse do Alzamora Group na Novotipo?

O Alzamora Group é um grupo espanhol, mas já trabalhávamos no mercado português e tínhamos dois agentes e um responsável pelo mercado português. Achávamos que era um mercado que tinha potencial. Como trabalhamos a nível internacional é um mercado que, estrategicamente, é muito interessante. Vimos que era uma oportunidade para crescer a nível internacional e que teríamos mais oportunidades se tivéssemos uma fábrica aqui. Através de um dos nossos agentes descobrimos a oportunidade de negociar com a Novotipo. Os administradores do grupo visitaram a empresa, conheceram o Sr. Durvalino Neto e gostaram de conhecer a filosofia familiar –Alzamora também é um grupo com origem familiar - e a forma de trabalhar, o valor que dão à qualidade, algo que também é muito importante para a Alzamora, e verificaram que ambas as empresas têm uma filosofia muito parecida. Por isso seria fácil juntar as empresas e criar sinergias, aproveitar os conhecimentos de uma e de outra.

 

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O que mais vos atraiu na Novotipo?

Em Espanha trabalhamos com um amplo portefólio de clientes de todos os setores. Apesar da Novotipo ser bastante especializada no setor farmacêutico, também trabalha para outros setores e achamos que isso é interessante. Em Espanha também trabalhamos muito cosmética. Aqui não está muito desenvolvido, mas é claro que também o consideramos. Seguindo com a filosofia da Novotipo - e da Alzamora em Espanha - procuramos setores que tenham um valor acrescentado. Procuramos clientes que procurem a qualidade e reconheçam a importância do valor acrescentado. Procuramos ir um pouco além e propor soluções diferentes e eficientes, por isso seguimos com foco nessa linha.

A aquisição trouxe muitas mudanças?

Mudam algumas coisas. Lá temos uma forma de trabalhar que tem resultados muito bons e queremos aplicar esse método aqui. A filosofia das empresas é muito parecida e temos uma base muito boa aqui, e faremos a implementação da melhoria contínua, de sistemas de qualidade, o que é muito importante para a Alzamora. Mas, desde junho, ainda não podemos falar de muitas mudanças. Antes de fazer alterações era necessário conhecer bem a empresa. É preciso estar presente, conhecer os métodos de trabalho, saber se é preciso alterar a forma como as coisas são feitas ou se estão corretas e podemos, por exemplo, aplicar o mesmo em Espanha. Mudámos algumas coisas e estamos a aproveitar para melhorar os processos. Por exemplo, como somos um grande grupo, para as compras estamos a tentar fazer a fusão dos processos para ter mais poder de negociação. Mas ainda é cedo, ainda estamos a realizar estes processos.

E pretendem fazer mais investimentos em termos de equipamentos, por exemplo?

A nível de maquinaria temos capacidade para os objetivos que temos no momento e podemos trabalhar para todos os tipos de setores. Não é, por isso, uma limitação.

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O que é que os potenciais clientes encontram na Novotipo?

Os clientes podem encontrar um parceiro que é especialista no que faz, não somente em ajudá-los a destacar o produto no linear ou no ponto de venda, mas também em termos estruturais. Se o cliente tem uma linha automática, podemos ajudar a fazer com que a sua produção seja muito mais eficiente, otimizar custos ao fazer um desenho estrutural diferente…ou seja, estamos 100% focados no cliente. Em termos de grupo, 70% do nosso crescimento depende do crescimento dos nossos clientes. São clientes que cresceram sempre connosco. Não queremos fazer apenas uma venda, produzir uma vez e já está! Procuramos parceiros a longo prazo, para crescermos juntos, para podermos ajudá-los a ser melhores pois dessa forma também vamos melhorar.

Que comparação fazem entre o mercado português e o espanhol?

Os mercados não são muito diferentes. O setor rege-se por tendências globais e são muito parecidas em Portugal e Espanha, porque são mercados muito próximos. A nível de funcionamento do mercado do packaging há algumas coisas que são muito diferentes, o que pode acontecer por motivos culturais. Apesar de ser o mesmo setor, houve uma evolução diferente em diversos países. A nível de packaging, por exemplo, França ou os países do Norte estão mais avançados do que Espanha ou Portugal.


Diferentes como?

O que vejo é que nesses países, os clientes valorizam muito mais o valor acrescentado. As empresas podem investir e dedicar-se muito mais a diferentes acabamentos e a características que dão esse valor acrescentado. O que vejo aqui, e que me surpreendeu muito, é que temos uma guerra constante de preço. É algo que é natural, mas estamos a prejudicar-nos muito. Em vez de valorizar o trabalho que fazemos e vendê-lo ao cliente, estamos a lutar constantemente com preços e a menosprezar o que estamos a fazer. Em vez de apresentarmos um protótipo, mostrar o que fazemos de diferente e mostrar a otimização que o cliente vai conseguir, estamos a discutir o preço. É por isso que fecham muitas empresas e o cliente se habituou a olhar para o preço. Isso destrói o nosso próprio mercado.

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E qual vai ser a estratégia?

A nossa vontade, tal como em Espanha - e durante a crise dos últimos anos fomos das poucas empresas a conseguir manter um crescimento constante – é seguir sempre a estratégia da qualidade. Trabalhamos por e para o cliente. O que queremos é oferecer qualidade e serviço. Não queremos oferecer o melhor preço e depois não fazer as entregas quando foi acordado ou que o produto tenha uma má qualidade. Se nos apresentamos como especialistas junto dos nossos clientes, temos que o ser. O nosso trabalho é perceber as tendências e aconselhar os clientes. Nós internamente fazemos investigação e temos um departamento para inovação e maquetação que se dedica a fazer propostas aos clientes. Em Espanha, por exemplo, temos seis engenheiros a fazer pesquisas de mercado e a propor melhorias à embalagem do produto do cliente ainda antes que seja pedido. Vamos sempre na linha da proatividade.


Que tendências estão na ordem do dia?

Agora a proteção da embalagem está na ordem do dia, assim como a serialização, que permite fazer o seguimento das embalagens e ambas ajudam a evitar a contrafação dos medicamentos. Temos que oferecer soluções que possam dar essa segurança, mas que tenham o mínimo impacto no sistema de produção do nosso cliente, para que implique menos investimentos e mudanças no que é o seu processo interno. No setor alimentar surgem novas leis e preocupações com as possíveis migrações das tintas para os alimentos, por exemplo. Mas nós estamos muito preparados para qualquer mudança e não têm sido significativas para nós.

 

Pretendem continuar o processo de internacionalização?

Nós trabalhamos por toda a Europa e na América do Sul também, sempre com base na produção em Espanha, e agora em Portugal. Mas não descartamos a possibilidade de investir noutros países. Afinal, o objetivo estratégico do grupo é continuar a crescer internacionalmente.

 

Surgiu em 1965 sob a designação Atelier Gráfico Novotipo e nos primeiros anos produziu impressos e outros trabalhos gráficos diversos. A empresa cresceu e, em 1973, em plena crise do sector, a Novotipo Artes Gráficas, S.A. investe na produção de embalagens em cartolina e micro canelado, especializando-se. Em 1988 a Novotipo concentra as suas operações, dispersas por diversos locais, e muda-se para as atuais instalações no Cacém, então com 10.200 m2 de área coberta. Em 1998, obtém a certificação do Sistema de Gestão de Qualidade, e em 2002 obtém a certificação do Sistema de Gestão Ambiental. Com o objetivo da internacionalização, a Novotipo investe em 2005 e moderniza o parque de máquinas. E, em 2004, consegue a certificação pelo Sistema de Gestão de Segurança e Saúde no Trabalho. Entre 2002 e 2008 faz um esforço de investimento superior a €13,1 milhões, na ampliação e modernização das instalações, para 12.500 m2 de área coberta, assim como na aquisição de novos equipamentos de impressão e acabamento. Em 2017 capta o interesse do Alzamora Group, que agora dirige o destino da empresa portuguesa.
 
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A origem do Alzamora Group está na cidade de Olot, numa gráfica fundada por Pere Alzamora e Michel no ano de 1900. Mais de 100 anos depois, tornou-se num conglomerado de três empresas, Alzamora Packaging, Alzamora Graphiques e Alzamora Plastic. A transformação é o resultado do esforço de três gerações da família Alzamora. Agora, com a compra da Novotipo Europa, passa a dispor de instalações de produção também em Portugal.