A Xerox Portugal reuniu parceiros e clientes num almoço, a 16 de maio, no Hotel Eurostars Parque das Nações, para debater os desafios atuais que as empresas enfrentam, em Portugal e no mundo. A primeiraXerox Corporate Talks, de várias que ainda decorrerão nos próximos tempos, contou com uma palestra de Paulo Portas.

Paulo Portas, sócio fundador da Vinciamo Consultoria e Professor Convidado na Nova SBE, desempenhou o cargo de Vice-Primeiro Ministro de Portugal, assim como as funções de Ministro dos Negócios Estrangeiros (2011-2015) e Ministro da Defesa (2002-2005). Afastado da vida política ativa desde 2016, continua a acompanhar os desenvolvimentos da economia global e partilhou a sua análise da situação atual.

O palestrante começou por recordar os tempos conturbados da pandemia, que foram depois reforçados por um conflito armado na Europa. A imprevisibilidade é o cenário mais frequente e o facto de a pandemia ter deixado de ser considerada uma emergência global, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), foi um «triunfo da ciência, da indústria e do capitalismo».

Diz não ser «otimista profissional ou pessimista antropológico», contudo estava apreensivo relativamente a 2023. Felizmente, diz, não será o ano péssimo que se previa, já que no final do primeiro semestre ainda não há estagflação nos Estados Unidos da América ou recessão na zona Euro. Ainda assim, sublinha, há que estar atento ao que se pode apresentar pela frente.

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Turismo, ativos, energia e bazuca ajudam Portugal

No evento, foram também enunciados os quatro fatores de criação de riqueza que vão ajudando a economia portuguesa, com atual défice de capital: turismo, ativos, energia e bazuca. No turismo, Paulo Portas explicou que, a nível de receitas, Portugal está 43% acima de 2019, um número que sofre uma ligeira atenuação do aumento face ao primeiro trimestre deste ano.

Segue-se o facto de existirem muitos estrangeiros a comprar ativos no país, tanto no setor agrícola, como industrial, tecnológico e imobiliário. Referiu ainda que há preocupações quanto às políticas sobre o Alojamento Local, que é decisivo para a capacidade turística de Portugal. Para quem se queixa de que há «demasiados turistas» em Portugal, Paulo Portas diz que é bom lembrar que «não podemos ter vícios de ricos sem o sermos», já que o turismo é um importante pilar da economia portuguesa.

A União Europeia fez um caminho significativo na independência das fontes de energia da Rússia, e os principais fornecedores energéticos de Portugal são, agora, a Nigéria e os Estados Unidos. Portas abordou ainda a importância do PRR, a chamada bazuca, e a obrigatoriedade de se aplicar os fundos, sob pena de diminuição dos mesmos e da formação da ideia de que os países do sul da Europa não têm capacidades para os investir.

Todos os fatores enunciados afetam diretamente as empresas, uma vez que «não há economia sem empresas», afirmou, pois são estas igualmente o garante da criação de riqueza, de valor acrescentado e de emprego no país. Referiu ainda que «vivemos anos demais habituados a inflação e juros baixos ou negativos», sendo agora necessário equilibrar a situação, pelo que ainda poderemos assistir a mais algum esforço a nível global.

A “desglobalização” e a fragmentação foram temas igualmente abordados durante a palestra, bem como a inflação e a atual invasão da Ucrânia. Quanto às estimativas esperadas no setor empresarial, o antigo político não tem dúvida de que «tal como a Europa aprendeu a viver com a pandemia sem ter grande experiência, também dá sinais de aprender a viver com uma terrível guerra no seu território».

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A inovação, políticas demográficas e cibersegurança

A relação entre a indústria e a academia deve ser forte para promover a inovação, a adoção da digitalização e da inteligência artificial. Paulo Portas analisou a lista das dez maiores empresas de internet do mundo, em que seis são americanas e quatro chinesas. O problema, diz, é que nenhuma é europeia, sendo fulcral pensar na competitividade como continente, gerir a questão da demografia e fazer uma aposta constante na investigação e desenvolvimento. «Ou nos centramos no que é essencial para a nossa competitividade e dinamismo económico» ou ficamos para trás, referiu.

Sublinhou que a questão da política demográfica é um desafio a longo prazo, especialmente para Portugal que tem uma população com uma idade média de 47 anos, o que poderá levar a uma dependência da imigração para colmatar as falhas nos recursos humanos. As políticas salariais são outro desafio, com os ordenados médio e mínimo demasiado próximos, tornando os subsídios de desemprego apetecíveis.

Com o tema da transformação digital em cima da mesa, Paulo Portas sugeriu atenção redobrada aos temas “ciber” e “cripto”. Sobre a ciberguerra e a cibersegurança, diz que há uma grande diferença para a guerra clássica: «são ataques perpetrados por alguém que sabe tudo sobre nós, mas nós não sabemos nada sobre eles», geralmente vindos de quem tem prazer por provocar o caos ou é movido por questões financeiras e políticas. Sobre a criptomoeda, alerta, irá ser certamente regulada pois estabelece uma concorrência demasiado desleal para se manter como está.



A Xerox como motor da transformação

A Xerox Corporate Talks foi pensada com o objetivo de ajudar os decisores a melhor compreender os atuais desafios para o setor empresarial e de entender a necessidade de acelerar a transformação digital nas empresas e nos serviços públicos. «A palestra do Dr. Paulo Portas acabou por transformar grandes conteúdos em algo entendível para todos e estou certo de que os nossos convidados estão ainda mais cientes das necessidades de transformação dos seus processos internos e de trabalharem de forma mais flexível, remota e segura. O feedback de todos os nossos clientes e parceiros foi bastante positivo», contou José Esfola, diretor-geral da Xerox.

Jose Esfola e Paulo PortasJosé Esfola e Paulo Portas

O evento contou com a presença de representantes de empresas e de organizações como a The Navigator Company, BCP, VASP, CML, EL CORTE INGLÊS, INCM, FENACAM, CTT, Grupo Moneris, XECOMPEX, ESEGUR, Beltrão Coelho, Serlima, NOS, MDS Group, COFIDIS, TELEPERFORMANCE, C. Santos, CONTISYSTEMS, Crédito Agrícola, Instituto Formação Bancária, XETCOPI, ALTOINFOR, MARSH, COBA, Indorama Ventures Portugal, Highgate Portugal, Unicâmbio e CREDIBOM.