A apresentação do livro Conhecer o Eucalipto, realizada nos Hotel Epic Sana Marquês, em Lisboa, no âmbito da Feira do Livro de Lisboa, marcou mais um passo no esforço de aproximar o público do debate em torno da floresta portuguesa.

Concebida como uma obra de divulgação científica em linguagem acessível, a publicação aborda as principais questões relacionadas com o eucalipto globulus, espécie predominante na indústria portuguesa de pasta e papel, e convida os leitores a uma reflexão informada sobre o seu papel económico, ambiental e social.

Durante a sessão de apresentação, António Redondo, CEO da Navigator, sublinhou que o livro  “não é apenas sobre floresta ou sobre eucalipto. É um livro sobre ciência, sustentabilidade e gestão ativa do território, pensado para o público em geral.” Defendeu que o projeto resulta de um esforço prolongado para reunir conhecimento técnico e científico com linguagem acessível, e que o objetivo principal é contribuir para decisões mais conscientes e políticas mais bem informadas.

“Num tempo em que a opinião pública e a opinião publicada nem sempre se encontram, é essencial criar espaços onde o conhecimento fale mais alto do que os preconceitos”, afirmou. Para António Redondo, muitos dos desafios que hoje se colocam à floresta portuguesa não derivam da espécie em si, mas sim de fatores como o abandono dos territórios rurais e a ausência de gestão ativa e ordenamento.

António Redondo, CEO António Redondo, CEO

Entre o conhecimento e o afeto

Entre as intervenções, o físico e divulgador de ciência Carlos Fiolhais, Professor Emérito da Universidade de Coimbra, destacou a ligação simbólica entre o papel e o eucalipto. “Quando vejo um livro, lembro-me de uma árvore. E muitas vezes essa árvore é o eucalipto.” Confessando-se “viciado em livros e em papel”, recordou o papel civilizacional do livro impresso e alertou para os perigos de uma visão redutora ou ideologizada do debate ambiental. O papel foi o amigo fiel a que os homens recorreram para descrever os seus sonhos. Que prova maior precisamos?”

Fiolhais traçou ainda paralelismos históricos e culturais, elogiando a longevidade do papel como suporte de memória e conhecimento: “Já estive à frente da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra. Lá,  há bíblias do século XII. E cada vez que vejo um novo livro, tenho esperança de que também ele resista ao tempo.”

Ordenamento, solo e planeamento

Foram também partilhadas reflexões sobre a gestão do território e os desafios associados à ausência de ordenamento florestal eficaz. Uma das oradoras alertou para a importância de integrar a gestão do solo, da água e da biodiversidade, defendendo uma abordagem sistémica, baseada no conhecimento específico de cada território: “Não podemos tratar os elementos da paisagem como compartimentos isolados. Precisamos de políticas ajustadas às realidades locais e de coragem para aplicar o que já sabemos que funciona.”

A apresentação reforçou a ideia de que muitos dos problemas atribuídos ao eucalipto derivam, na verdade, da falta de gestão ativa e da desorganização do território rural, e não tanto da espécie em si.

Camelos, metáforas e sentido crítico

Um dos momentos mais marcantes da sessão foi protagonizado por um dos intervenientes que, com humor e ironia, leu um texto comparando o eucalipto aos camelos — ambos exóticos, ambos úteis, ambos alvo de controvérsia. A metáfora serviu para questionar a ideia de que só as espécies autóctones são legítimas ou benéficas: “O eucalipto não é bom por ser exótico, mas também não é mau por sê-lo. A questão está na forma como é gerido.”

Uma peça de um processo mais alargado

Promovido pela The Navigator Company, o livro é o resultado de um esforço coletivo que reuniu contributos de diversas entidades científicas, académicas e do setor florestal. Entre os parceiros encontram-se o Instituto Superior de Agronomia, o ICNF, o Laboratório Nacional de Energia e Geologia, o RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel, e várias universidades.

A apresentação do livro, no entanto, foi descrita como parte de um processo mais vasto, que inclui a criação de uma base de conhecimento técnico e científico sobre o eucalipto e o lançamento de várias iniciativas de divulgação. Além da versão agora apresentada, dirigida ao público geral, está previsto o lançamento de uma publicação mais extensa, com cerca de 400 páginas, orientada para leitores com maior literacia técnica na área florestal.

A sessão terminou com um apelo à continuidade do diálogo e da partilha de conhecimento, não apenas entre especialistas, mas envolvendo também escolas, meios de comunicação e a sociedade em geral. A mensagem central foi clara: para gerir bem a floresta, é preciso primeiro conhecê-la.