O ano de 2025 ficou marcado por um contexto exigente para a indústria da comunicação gráfica.
Entre pressão regulatória europeia, ajustes económicos, reconfiguração do mercado editorial e uma sucessão contínua de lançamentos tecnológicos, o setor avançou num equilíbrio delicado entre prudência financeira e investimento estratégico. Mês após mês, os acontecimentos confirmaram que a impressão continua a ser uma indústria estrutural, embora sujeita a transformações profundas. Antes de dar o arranque à impressão de um novo ano, vamos rever alguns aspetos que marcaram cada mês de 2025.
Janeiro
O início do ano foi dominado por decisões económicas e de reorganização estrutural. A The Navigator Company anunciou um pacote de valorização salarial para 2025, com um aumento médio de 4,7%, a subida do salário de entrada para 962 euros e o pagamento antecipado de parte do prémio de 2024. A empresa reforçou ainda a manutenção de benefícios sociais e destacou a sua política de retenção de talento, num setor onde a especialização técnica continua a ser crítica.
Janeiro ficou igualmente marcado pela evolução do processo da Trust in News, que apresentou um plano de recuperação com impacto direto no ecossistema gráfico: suspensão ou venda de vários títulos, redução significativa de postos de trabalho, diminuição da periodicidade de algumas revistas e um plano de pagamento faseado das dívidas ao longo de 15 anos. O caso voltou a evidenciar a fragilidade económica do setor editorial e as implicações diretas para gráficas, distribuidores e fornecedores de papel.
No plano tecnológico, a Canon lançou a imagePROGRAF PRO-310, dirigida ao mercado fotográfico profissional, destacando a durabilidade das tintas pigmentadas e uma abordagem mais sustentável ao nível da embalagem. Em paralelo, vários distribuidores de papel comunicaram atualizações de preços e condições comerciais, antecipando um ano marcado por margens controladas e maior seletividade na gestão de stocks.
Fevereiro
Fevereiro trouxe o primeiro grande momento de reencontro físico do setor com a realização da Portugal Print Packaging & Labeling. A feira confirmou tendências já em curso, como a crescente procura por soluções digitais de média produção, equipamentos de acabamento e sistemas de personalização com valor acrescentado. Fabricantes e distribuidores centraram o discurso na produtividade, na redução de desperdício e na diferenciação como resposta à pressão sobre preços.
A Konica Minolta, através da FM Printing, apresentou soluções como a AccurioPress C4065 e equipamentos de embelezamento digital, reforçando a aposta em aplicações premium. Outros fabricantes destacaram fluxos de trabalho integrados e soluções híbridas, refletindo a necessidade de maior flexibilidade produtiva.
O mês ficou também marcado por anúncios relevantes no segmento têxtil e decorativo. A Mimaki confirmou a apresentação da tecnologia TRAPIS na Heimtextil 2025, antecipando uma abordagem que elimina as fases de pré-tratamento e lavagem, com poupanças significativas de água. Em paralelo, vários fabricantes anunciaram revisões de preços de consumíveis, refletindo a persistência dos custos energéticos e das matérias-primas.
Março
Março destacou-se pela conjugação de alertas institucionais e forte atividade tecnológica. A Cepi alertou para o risco de uma escalada tarifária entre a União Europeia e os Estados Unidos, num contexto de reintrodução de tarifas norte-americanas sobre aço e alumínio. A confederação sublinhou que o setor da pasta e papel, fortemente exportador, poderia ser diretamente afetado por eventuais medidas de retaliação, defendendo uma abordagem diplomática e coordenada por parte da Comissão Europeia.
No plano industrial, março foi marcado por lançamentos relevantes. A Roland DG apresentou a VersaOBJECT MO-180, uma impressora UV de mesa plana orientada para personalização de objetos e pequenas séries industriais, acompanhada do novo RIP VersaWorks 7, com melhorias ao nível da automação e da gestão de dados variáveis.
A Kodak assinalou os 30 anos da introdução da tecnologia térmica para chapas, recordando o impacto da drupa 1995 e reforçando o posicionamento das chapas process-free SONORA, num contexto de crescente exigência ambiental e redução de químicos nos processos offset.
Abril
Abril foi um mês de memória, identidade e pressão comercial. A APIGRAF inaugurou, em Ponta Delgada, a exposição Indústria Gráfica – Impressões que Permanecem, integrada no Encontro 2025, sublinhando o papel histórico das artes gráficas portuguesas e a sua ligação à cultura, à educação e à comunicação social.
Em paralelo, abril ficou marcado por vários concursos públicos de impressão e outsourcing de serviços de cópia lançados por autarquias, com valores significativos e critérios frequentemente centrados no preço. Estes procedimentos voltaram a evidenciar o peso da contratação pública na atividade do setor, mas também as dificuldades de conciliar qualidade, sustentabilidade e competitividade económica.
No plano dos materiais, abril trouxe novos anúncios de papéis técnicos, soluções barreira e alternativas ao PVC, refletindo uma aposta crescente em suportes compatíveis com reciclagem e economia circular, sobretudo nos segmentos de embalagem e grande formato.
Maio
Maio trouxe dados económicos concretos que ajudaram a enquadrar o momento do setor. A CEPI publicou o relatório Key Statistics 2024, confirmando a recuperação da produção e do consumo de papel e cartão na Europa, impulsionada sobretudo pelo crescimento da embalagem e do papel tissue. O papel gráfico, embora longe dos níveis históricos, mostrou sinais de estabilização após vários anos de queda.
Portugal voltou a afirmar-se como um dos principais produtores europeus de pasta, reforçando a sua posição estratégica no contexto industrial europeu. O mês ficou também marcado pelo reconhecimento internacional da Altri, que integrou o ranking das 500 empresas mais sustentáveis do mundo, elaborado pela revista TIME, em parceria com a Statista.
Maio foi ainda um mês ativo no combate à desinformação ambiental. A Two Sides anunciou que mais de 1.300 organizações removeram mensagens de greenwashing contra o papel, reforçando uma narrativa baseada em dados científicos sobre gestão florestal, reciclagem e emissões.
Junho
Em junho, a atenção voltou a centrar-se na regulação europeia e na operacionalização das novas regras. A Intergraf apresentou o EUDR-X, um standard aberto para facilitar a troca de dados e o cumprimento do Regulamento Europeu da Desflorestação ao longo da cadeia gráfica. A iniciativa procurou responder às preocupações das PME quanto à complexidade administrativa e à rastreabilidade das matérias-primas.
O mês foi igualmente marcado por anúncios tecnológicos relevantes. A Canon e a Heidelberg reforçaram a cooperação em inkjet folha-a-folha, enquanto a Fujifilm encerrou os eventos Peak Performance Print em Bruxelas, com demonstrações de soluções de jato de tinta de alta velocidade e foco na eficiência do consumo de tinta.
Em paralelo, a APIGCEE voltou a alertar para o impacto dos custos energéticos na competitividade das indústrias eletrointensivas, sublinhando a necessidade de medidas estruturais para evitar perda de capacidade produtiva nacional, um tema que atravessou transversalmente o primeiro semestre.
Julho
Julho ficou marcado por um conjunto de movimentos estratégicos e alertas institucionais. A Intergraf manifestou satisfação com o acordo alcançado sobre o Regulamento Europeu da Desflorestação (EUDR), que confirmou o adiamento de um ano na entrada em aplicação da legislação e introduziu requisitos simplificados ao longo da cadeia de abastecimento. A exclusão dos produtos impressos classificados no código HS 49 foi recebida como um alívio para o setor gráfico, ainda que o papel, enquanto matéria-prima, continue abrangido pelas obrigações de rastreabilidade.
No plano empresarial, julho trouxe também sinais de consolidação no mercado europeu do papel gráfico, com anúncios de reorganização produtiva e ajustamentos de capacidade, refletindo uma procura estruturalmente mais baixa, mas mais estável. Em paralelo, várias marcas internacionais reforçaram investimentos em soluções de personalização e impressão de dados variáveis, antecipando a procura sazonal do último trimestre.
Agosto
Agosto foi, como habitual, um mês de menor exposição mediática, mas não de inatividade. Muitas empresas aproveitaram o período para paragens técnicas, manutenção de equipamentos e reorganização de fluxos produtivos, num contexto de gestão cautelosa da capacidade instalada.
No plano regulatório, o setor manteve-se atento aos desenvolvimentos do EUDR e à preparação de sistemas internos de compliance, sobretudo por parte de PME. Fabricantes de software e fornecedores de serviços começaram a comunicar soluções orientadas para a rastreabilidade e gestão documental, antecipando a complexidade administrativa associada à nova legislação.
Agosto ficou ainda marcado por anúncios discretos de expansão industrial fora da Europa, nomeadamente na Ásia, onde grupos internacionais reforçaram capacidade produtiva em papel, tintas e consumíveis, procurando mitigar riscos geopolíticos e logísticos.
Setembro
Setembro marcou o regresso em força da agenda setorial. A APIGRAF voltou a assumir um papel central no debate sobre competitividade, transição tecnológica e sustentabilidade, preparando o novo ciclo associativo e reforçando o diálogo institucional com entidades públicas.
No plano tecnológico, setembro foi um mês particularmente ativo. Fabricantes como a Canon, a Heidelberg e a Fujifilm reforçaram anúncios em torno da impressão inkjet de produção, sublinhando ganhos de produtividade, eficiência energética e integração com fluxos híbridos offset–digital. A aposta em equipamentos de folha solta e grande formato confirmou a tendência de substituição gradual de volumes offset tradicionais por soluções digitais de alta performance.
O mês ficou ainda marcado por novos concursos públicos de impressão e outsourcing, com valores relevantes, confirmando a importância da contratação pública como pilar da atividade gráfica em Portugal.
Outubro
Outubro trouxe notícias de peso ao nível empresarial e financeiro. A The Navigator Company voltou a ganhar destaque com o anúncio de aumentos de preços no papel não revestido na Europa, a aplicar a partir de janeiro de 2026, entre 5% e 8%. A empresa justificou a decisão com a pressão contínua sobre custos estruturais e a necessidade de repor níveis sustentáveis de rentabilidade.
No campo da tecnologia e comunicação, a Ricoh lançou a curta-metragem Dreaming Ric, associada à nova série de multifuncionais IM C Circular Economy, desenvolvida com até 86% de componentes reciclados. A iniciativa reforçou a ligação entre inovação tecnológica e economia circular, num momento em que a sustentabilidade assume peso crescente nas decisões de compra.
Outubro foi também um mês ativo em campanhas de marketing operacional e ativação de marca, com ações de grande escala no retalho, demonstrando a continuidade da impressão como suporte essencial de comunicação no ponto de venda.
Novembro
Novembro marcou o ponto alto do calendário do setor com a realização dos PAPIES 2025, afirmando-se, uma vez mais, como o momento de reconhecimento da indústria gráfica, da embalagem e da comunicação visual em Portugal.
O prémio de Projeto Gráfico do Ano distinguiu o trabalho “João Machado – Poética Visual”, desenvolvido pela Lusoimpress, reconhecendo um projeto que se destacou pela coerência conceptual, exigência técnica e qualidade de execução. A distinção sublinhou a importância do diálogo entre design, escolha de materiais e processos de impressão, num momento em que o valor acrescentado do projeto gráfico assume um papel central na diferenciação do produto impresso. O projeto vencedor evidenciou uma abordagem madura, onde o detalhe, o acabamento e a consistência visual foram determinantes.
A distinção de Empresa do Ano foi atribuída à Gráfica Ideal, numa homenagem a um percurso marcado por investimento contínuo, capacidade de adaptação ao mercado e visão estratégica. Na intervenção de Márcia Estima, foi sublinhado o caminho de transformação da empresa, assente na diversificação de áreas de negócio, na aposta em tecnologia e na valorização das equipas. A distinção refletiu não apenas resultados económicos, mas uma cultura empresarial focada na sustentabilidade e na criação de valor a longo prazo.
Já o prémio de Personalidade do Ano reconheceu Vitaliano Moluras, da Onda Grafe, destacando um percurso de liderança profundamente ligado à evolução do setor gráfico português. A escolha refletiu o reconhecimento de um contributo individual que ultrapassa projetos concretos, simbolizando uma geração de profissionais que tem guiado o setor em períodos de elevada complexidade.
Para além das distinções principais, os PAPIES 2025 integraram a primeira edição do Concurso “Jovens Gráficos”, com o objetivo de aproximar os jovens estudantes da indústria gráfica.
Novembro foi também dominado por movimentos de consolidação e reestruturação. A Xerox anunciou a aquisição da Lexmark por 1,5 mil milhões de dólares, num negócio destinado a reforçar a posição da Xerox nos serviços de gestão de impressão e nos ambientes de trabalho híbridos. A operação confirmou uma tendência clara de concentração no setor, como resposta à maturidade de alguns mercados e à necessidade de escala.
No mesmo mês, a Trust in News voltou ao centro da atualidade, com o agravamento da sua situação financeira e a aproximação de cenários de insolvência, lançando incerteza sobre o futuro de vários títulos históricos e reacendendo o debate sobre a sustentabilidade do modelo editorial em Portugal.
Novembro ficou ainda marcado por eventos associativos e encontros profissionais, preparando o encerramento do ano e antecipando as prioridades estratégicas para 2026.
Dezembro
O ano fechou com decisões institucionais e balanços estratégicos. A APIGRAF realizou eleições para os órgãos sociais do mandato 2026–2029, com a lista liderada por José Manuel Lopes de Castro a ser eleita num contexto descrito como particularmente exigente para o setor, marcado pela transição tecnológica, sustentabilidade e enquadramento regulatório europeu.
Dezembro trouxe também sinais de maturidade digital. A Konica Minolta apontou 2026 como um ano decisivo para a consolidação da inteligência artificial, da automação e da cibersegurança nas empresas, sublinhando a necessidade de decisões mais rápidas, controlo de custos e maior eficiência operacional, sobretudo nas PME.
No plano social e cultural, o mês foi marcado por iniciativas de responsabilidade social, lançamentos editoriais e campanhas sazonais que voltaram a demonstrar a presença transversal da impressão na economia, na cultura e na comunicação.