Com líderes associativos e profissionais do setor gráfico e de grande formato de Portugal, França, Espanha, Itália e Grécia, o Southern European Print Congress (SEPC) voltou a afirmar-se como um espaço privilegiado de partilha e colaboração entre países do sul da Europa.

Promovido com o apoio da FESPA, o evento destacou os grandes desafios e oportunidades da indústria, com enfoque especial na captação de talento, na digitalização, na sustentabilidade e na valorização dos mercados locais num contexto internacional.

Paulo DouradoPaulo Dourado (© Pedro A. Santos)

 


A FESPA é representada em Portugal pela APIGRAF, cuja delegação portuguesa foi liderada por Paulo Dourado. O Diretor de Comunicação da Associação Portuguesa das Indústrias Gráficas, de Embalagem e Comunicação Digital, destacou o espírito colaborativo do SEPC como exemplo de um associativismo saudável e visionário: “Este é um exemplo único dentro do universo das associações que constituem a FESPA. Cinco associações do sul da Europa, com um propósito comum, reúnem-se anualmente para discutir temas transversais às empresas que representam.” Sublinhou ainda o simbolismo deste projeto, que resiste há uma década, apesar das barreiras linguísticas e metodológicas, e acrescentou: “Num mundo onde o individualismo e o antagonismo parecem prevalecer, este Congresso mostra o que de melhor o associativismo tem para oferecer.”

 

Ensino profissional com ligação direta ao setor: o exemplo da Val do Rio

Diogo Martinho, professor da Escola Profissional Val do Rio (Oeiras), foi o primeiro orador português no congresso, partilhando uma perspetiva prática sobre como atrair jovens para o setor gráfico. “A imagem da profissão ainda é pouco atrativa para os mais novos. É essencial desmistificar o setor e mostrar o que ele tem de inovador, criativo e tecnológico.”

Diogo Martinho

 

Diogo Martinho apresentou o modelo formativo da sua escola, que combina formação académica com prática intensiva em contexto real com estágios de 600 horas em empresas do setor; parcerias com gráficas, estúdios e universidades; participação em concursos e projetos internacionais e aposta em equipamentos e software de última geração. “Os nossos alunos não querem apenas estar na escola. Querem estar no terreno, a aprender com os profissionais. E é essa ligação com a realidade que garante motivação, sucesso escolar e empregabilidade”, afirmou.

Portugal imprime e tece o futuro com criatividade e responsabilidade

Na sua apresentação, Alice Machado, editora da revista doPAPEL, deu uma visão abrangente sobre a indústria gráfica e têxtil portuguesa, com enfoque na inovação, na sustentabilidade e na internacionalização. “Portugal é um país pequeno em dimensão, mas com uma enorme capacidade de fazer bem. Temos indústria, temos talento e temos centros tecnológicos de excelência.” Do lado gráfico, destacou a resiliência das 2.100 empresas do setor, maioritariamente PME; o crescimento das exportações (mais de 600 milhões de euros), com Espanha e França como mercados principais, a digitalização e a aposta em serviços integrados de comunicação e a importância das embalagens e rótulos como motores de inovação e exportação. Na intervenção, disse: “as empresas portuguesas estão a reinventar-se, combinando tradição com tecnologia de ponta. E hoje, oferecem soluções que integram impressão, design, sustentabilidade e logística.”

Alice Machado (©Pedro A. Santos)Alice Machado (©Pedro A. Santos)

Do lado têxtil, a editora abordou a força industrial do norte de Portugal e apresentou projetos que ilustram a ligação entre inovação e responsabilidade ambiental: o Smart Roof Systems, com têxteis inteligentes aplicados à construção; o Green Circle, moda sustentável com materiais ecológicos e o BE@T, o maior projeto português de bioeconomia têxtil. Concluiu com um convite à descoberta do melhor de Portugal: “as indústrias portuguesas estão a criar produtos e soluções que combinam estética, desempenho e consciência ambiental.”

Encerramento marcado por emoção, homenagem e continuidade

O encerramento do congresso foi marcado por momentos de grande simbolismo, com homenagem a Lassell “Las” Barrow, membro honorário da Administração e antigo Presidente da FESPA, que faleceu recentemente após doença prolongada. “Perdemos um colega, um amigo, um verdadeiro construtor de pontes dentro da FESPA. Este evento é, de certa forma, também uma cerimónia de despedida e de gratidão”, referiu Christophe Aussenac, da FESPA França.


Em tom emotivo e de unidade, vários representantes das diversas associações recordaram os dez anos de percurso do SEPC, desde a sua origem em Barcelona, em 2015, até à atual edição em Marselha. “Somos países com línguas e mentalidades diferentes. Mas é exatamente isso que torna este projeto único. Este congresso não é só uma conferência. É uma rede de amizade, uma história que continua a crescer”, disseram.

Christophe Aussenac
Houve ainda um agradecimento especial à organização francesa. No momento final, ficou o convite oficial para a próxima edição: “Em 2026, voltamos a Portugal, muito provavelmente ao Porto. Estão todos convidados: bom vinho, boa comida e, acima de tudo, boa amizade”, sublinhou Paulo Dourado.

Mais para conhecer

O SEPC 2025, contou com diversas intervenções a propósito de novos projetos e questões legislativas. Foi uma celebração da diversidade, da colaboração e do espírito europeu no setor da comunicação visual, com intervenções relevantes e partilha de experiências, a descobrir na próxima edição da revista doPAPEL.