A imposição de tarifas comerciais por parte dos Estados Unidos está a gerar apreensão no setor europeu de pasta e papel, que se vê confrontado com a possibilidade de perdas significativas nas exportações, aumento de custos e desequilíbrios no mercado interno.

O anúncio de uma tarifa generalizada de 10% sobre todas as importações, aliado à ameaça de taxas adicionais de até 20% para bens provenientes da União Europeia, levou várias empresas e associações do setor a ativar mecanismos de análise e resposta. Embora a medida tenha sido parcialmente suspensa por 90 dias, a incerteza continua a pairar sobre o comércio transatlântico.

A Europa apresenta atualmente um ligeiro défice na balança comercial de pasta e papel com os EUA, com destaque para produtos como a pasta química e o kraftliner. No entanto, regista excedentes em segmentos como papel gráfico e cartão, que poderão ser diretamente afetados por estas barreiras alfandegárias.

Segundo fontes da indústria, os produtores europeus de papel gráfico poderão ver-se forçados a redirecionar volumes inicialmente destinados aos EUA para o mercado interno, já saturado e com margens reduzidas. Por sua vez, o segmento de cartonagem — nomeadamente o folding boxboard — arrisca perder competitividade num mercado onde a Europa detinha presença relevante.

No setor das pastas, os exportadores europeus de fibra longa acreditam que os custos adicionais acabarão por ser suportados pelos clientes norte-americanos, mas admitem que, a médio prazo, os fluxos comerciais poderão ser redesenhados — com os EUA a favorecer fornecedores mais próximos, como o Canadá, e a Europa a procurar reforçar a sua presença noutros mercados, como a Ásia.

A Comissão Europeia já fez saber que está a preparar uma resposta proporcional, incluindo eventuais contramedidas e a aceleração de novos acordos comerciais com parceiros estratégicos. O Reino Unido, embora fora da UE, também se encontra a auscultar o tecido empresarial para avaliar uma eventual reação.

Enquanto se aguardam decisões políticas concretas, os operadores europeus continuam a monitorizar a situação, conscientes de que qualquer perturbação prolongada nas trocas comerciais poderá acelerar o processo de reorganização da indústria papeleira na Europa.